Paciente 67 - Dennis Lehane
Sinopse
No verão de 1954, o xerife Teddy Daniels chega a Shutter Island com seu novo parceiro Chuck Aule. A dupla deverá investigar a fuga de uma interna do Hospital Psiquiátrico Ashecliffe, reservado a pacientes criminosos. Sem deixar vestígios, a assassina Rachel Solando escapou descalça de um quarto vigiado e trancado à chave. Os médicos, funcionários e enfermeiras da instituição não parecem dispostos a colaborar com a investigação. E as mentiras parecem vir diretamente do enigmático médico-chefe do hospital. O desaparecimento de Rachel traz à tona uma série de suspeitas sobre o hospital: com suas cercas eletrificadas e guardas armados, talvez ele não seja apenas mais um sanatório para criminosos. Surgem rumores de que uma abordagem radical e violenta da psiquiatria seria lá praticada - as suspeitas incluem desde terríveis experiências com drogas e cirurgias experimentais, até o desenvolvimento de instrumentos a serem usados na Guerra Fria. Enquanto isso, um furacão se aproxima da ilha, precipitando uma revolta entre os presos. Quanto mais perto da verdade Teddy e Chuck chegam, mais enganosa ela se torna. Em 2003, a Columbia Pictures comprou os direitos de adaptação para um filme que foi chamado de A Ilha do Medo.
Prólogo
Faz muitos anos que não vejo a ilha. Da última vez, eu a vi do barco de um amigo que se aventurou no anteporto; avistei-a ao longe, para além do porto interior, envolta numa bruma estival, mancha de tinta no céu, deixada por alguma mão descuidada.
Faz mais de duas décadas que não ponho o pé lá, mas Emily diz (às ve-zes brincando, às vezes não) que não sabe ao certo se saí mesmo de lá. Certa vez ela me disse que o tempo, para mim, não passa de uma série de marca-livros que uso para saltar para frente e para trás no texto de minha vida, vol-tando repetidas vezes aos acontecimentos que fizeram de mim, aos olhos dos colegas mais perspicazes, um caso clássico de melancolia.
Emily deve ter razão. Ela quase sempre tem razão.
Logo vou perdê-la também. É uma questão de meses, como nos disse o doutor Axelrod na quinta-feira passada. Faça essa viagem, ele aconselhou. Essa de que você sempre fala. Vá a Florença e a Roma, a Veneza na primave-ra. Porque você também não está com um aspecto muito bom, Lester.
Acho que não estou mesmo. Ando perdendo minhas coisas, principal-mente meus óculos. As chaves do carro. Entro em lojas e não me lembro do que queria comprar, vou ao teatro e na saída não me lembro de nada do que vi. Se o tempo para mim é mesmo uma série de marca-livros, então me sinto como se alguém tivesse sacudido o livro, fazendo cair no chão pedacinhos de papel amarelado, tirinhas de caixas de fósforos e pazinhas de mexer café, ten-do o cuidado de alisar as folhas amarfanhadas.