Sonhos D’ouro - José de Alencar
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Sinopse
Muitos críticos vêem no romance Sonhos D Oro, de 1872, algumas passagens que consideram inspiradas na felicidade conjugal que Alencar parece ter experimentado ao lado de Georgiana.
Na obra o dinheiro representa o instrumento que permitiria autonomia de Ricardo e seu casamento com Guida; nos tempos do Segundo Reinado, as barreiras sociais impedem a plena manifestação do amor entre Ricardo, jovem bacharel provinciano, e Guida, uma moça da corte, educada à inglesa.
Alencar publicou no prólogo da obra o seminal artigo Benção Paterna, em que discorre sobre a literatura brasileira em geral e nela situa a sua produção. Neste prefácio, o romancista apresenta um plano que teria norteado toda sua produção ficcional. Demonstra que a sua obra objetivou retratar as etapas formativas pelas quais passara o país desde a vida primitiva dos selvagens até a instauração do Segundo Império.
Prólogo
O sol ardente de fevereiro dourava as lindas serranias da Tijuca.
Que formosa manhã! O céu arreava-se do mais puro azul; o verde da relva e da folhagem sorria
entre as gotas de orvalho, cambiando aos toques da luz.
Frocos de névoa, restos da cerração da noite, cingiam ainda os píncaros mais altos da montanha,
como pregas de véu flutuante, ao sopro da brisa, pelas espáduas das lindas amazonas, que durante
o verão costumam percorrer aquelas amenas devesas.
Seriam sete horas.
Um passeador solitário seguia a pé e distraidamente por um dos muitos caminhos que se cruzam
em várias direções pela encosta ocidental da montanha. Levava ele embaixo do braço esquerdo um
álbum de desenho, naturalmente destinado à cópia das magníficas perspectivas, que oferecem a
cada passo as quebradas da serrania.
Era moço de 28 anos. Seu rosto de traços nobres não tinha decerto a beleza correta e artística do
tipo clássico, nem a faceirice de certos casquilhos, príncipes da moda: apresentava porém uma
fisionomia simpática e distinta. O olhar sobretudo, que é o sol d alma, lhe esclarecia a larga fronte
pensativa de reflexos inteligentes.
Trajava com extrema simplicidade. Tinha um vestuário completo, ou no jargão parisiense dos
alfaiates, um costume ainda bem conservado e decente, apesar de um tanto fanado na gola.
Notava-se a ausência completa do ouro: a abotoadura era toda de marfim; e não se via sinal de
relógio.