Encarnação - José de Alencar
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Sinopse
Encarnação é um dos romances do escritor brasileiro José de Alencar. Foi publicado em 1893.
Encarnação Amália era uma das maiores belezas da corte do Rio de Janeiro e pretendentes não lhe faltavam, mas ela tinha uma verdadeira desilusão quanto ao casamento, preferindo inúmeras vezes a vida de solteira. Sua alma ainda não se desligara da infância e por muitas vezes, com suas bonecas ainda presentes em um canto do seu aposento, simulava as quadrilhas que tinha vivido durante a noite no salão.
Como vizinho tinha o chamado Hermano, um homem extremamente reservado e que tinha muitas variações de humor. Ora agradavelmente na rua cumprimentava a seus conhecidos e amigos e ora se fechava em uma espécie de melancolia reservada em que não se mostrava nem minimamente sociável. A casa em que vivia estava sempre fechada e com a pintura desgastada. Vivia ali apenas com seus empregados e uma espécie de mordomo, Abreu.
Amália veio conhecer a história de Hermano por intermédio de seu amigo, Henrique Teixeira. Acontecia que Hermano fora casado com uma moça chamada Julieta, o casamento surpreendeu a todos já que a moça não era nem bela nem freqüentadora da sociedade e poucos eram os que a conheciam. Mas os dois se casaram e o elo entre eles era de um amor extremo e profundo. O mínimo de tempo separados lhes provocavam uma dor inestimável. Hermano até brincava que não possuíam filhos porque se amavam de tal forma que não aceitavam ceder parte deles para que um novo ser, fruto de seu amor, nascesse.
E depois de alguns anos, poucos para eles, Julieta finalmente engravidou e nesse estado faleceu junto ao feto. Daí em diante Hermano se tornou o homem que era, chegava a não querer conhecer e conviver com aqueles que não tinham se relacionado com a esposa enquanto era viva. Nessas circunstâncias, ele passou a viver em uma espécie de alucinação em que vivia trancafiado em casa vivendo com a lembrança da esposa, que ele sentia junto a ele.
Assim Amália conheceu a história de seu vizinho e nasceu nela um íntimo interesse sobre ele. Passava longos momentos observando a casa vizinha e tentando lembrar-se da vez que, quando criança, esteve escondida ali os observando. Foi assim que ela se sentiu como irmã de Julieta e a cada momento se prendia mais à historia dos vizinhos.
Em dado momento, quando pôde observar a casa vizinha, viu Hermano junto a uma mulher que em um dia estava deitava no tocadoro e em outro sentada. Isto despertou sua raiva por Hermano. Tomava as dores da falecida esposa que, em sua visão, estava sendo traída.
A tudo isso, a mãe dela e Henrique Teixeira já tinham chegado até a cogitar um casamento entre a menina e Hermano, visto que ela se interessava tanto pela casa vizinha. Mas o plano de ambos logo se findou.
Finalmente chegou o momento em que se conheceram. Amália tocava piano e a sua voz chamou Hermano até a janela. Nesse primeiro encontro a menina teve como reação fechar a janela, pois ainda se aborrecia da imagem que teve de o ver com outra mulher, traindo Julieta. Depois, ela percebeu que sua voz o atraía e assim talvez pudesse impedí-lo te estar com outra.
Foi assim que em pouco tempo Hermano passou a freqüentar a casa de Amália e os dois logo se prendiam em conversas fúteis a sós em um canto da sala. Como uma possível viagem de Amália e sua família a Europa se aproximava – viagem proposta apenas para retirar a menina da melancolia em que vivia – Hermano foi falar ao pai da moça. Todos esperavam um pedido de casamento, no entanto, como teve que esperar por dois minutos no gabinete do pai dela, sua coragem se dissipou frente à lembrança de Julieta.
A conseqüência desse pedido não feito foi o rompimento das ligações. Porém, poucos dias após tal fato, Hermano escreveu uma carta pedindo a mão da menina em casamento. Amália demorou alguns dias pensando em sua resposta, temia que a ligação que Hermano tinha com sua esposa pusesse em sacrifício a vida dos dois: a dela, por não poder ser amada realmente e muito mais a dele, que se sentiria impuro por “trair” sua esposa.
Mesmo com muitas dúvidas, o casamento se fez. Poucas coisas saíram como Amália esperava. Hermano não estava livre para amá-la e assim a tristeza recaía sobre ela e sobre ele, que se sentia culpado em trair a primeira esposa e ter enganado a segunda. Ainda havia Abreu, amo da falecida, que não gostava de Amália, e os demais criados que não a obedeciam.
Nessas circunstâncias, ela achou melhor falar ao marido que buscassem um modo de se separar sem causar escândalos. As palavras de Hermano fizeram Amália acreditar que ele planejava o suicídio. De fato era o plano dele, mas a esposa o fez prometer que não o faria. Assim ficou decidido entre eles que buscariam tal modo de se separarem. Estando só em casa, Amália descobriu nos aposentos do marido as portas que davam aos antigos quartos de Juliana. Quando a moça entrou ali, encontrou a mulher que vira há algum tempo. E então compreendeu o que se passava com o marido.
Prólogo
CAPÍTULO 1
Conheci outrora uma família que morava em São Clemente.
Havia em sua casa agradáveis reuniões de que fazia os encantos uma filha, bonita moça de dezoito
anos, corada como a aurora e loura como o sol.
Amália seduzia especialmente pela graça radiante e pela viçosa e ingênua alegria que manava nos
lábios vermelhos como dos olhos de topázio, e lhe rorejava a lúcida beleza.
Sua risada argentina era a mais cintilante das volatas que ressoavam entre os rumores festivos da
casa, onde à noite o piano trinava sob os dedos ágeis da melhor discípula do Amaud.
Acontecia-lhe chorar algumas vezes por causa de um vestido que a modista não lhe fizera a gosto,
ou de um baile muito desejado que se transferia; mas essas lágrimas efêmeras que saltavam em bagas dos
grandes olhos luminosos, iam nas covinhas da boca transformar-se em cascatas de risos frescos e
melodiosos.
Tinha razão de folgar.
Era o carinho dos pais e a predileta de quantos a conheciam. Muitos dos mais distintos moços da
corte a adoravam.